Criei este blog para a família e os amigos acompanharem meu dia a dia no Caminho de Santiago de Compostela, em maio/2009. É um diário pessoal.
Quem for lê-lo agora, após concluído, sugiro iniciar a partir das postagens mais antigas, clicando nos itens do Arquivo do blog, na coluna da direita, ou AQUI NO INÍCIO.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Fotos Selecionadas

Estas fotos foram selecionadas pelo SESC de Santos-SP para a Exposição de Fotografias sobre o Caminho Francês, durante a realização da 3ª Semana de Santiago. (21 a 25/07/09)



A primeira foi tirada pela Mayumi, com a minha máquina. As duas seguintes são nos Pirineus e a quarta no Alberque São Francisco de Assis em Tosantos.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

O que levei (o que levar?)


Bem, já de volta à realidade do dia a dia, vão algumas dicas, a pedido dos futuros peregrinos.
Há muita discussão sobre o que levar. Abaixo a minha opinião.
Quase tudo que usei pode ser visto nas fotos do blog.

O QUE LEVEI:
- Mochila pequena de 35 litros (essa aí da foto). É suficiente. O que não couber não vai.
- Saco de dormir, de 600 gramas, da Náutica, 5ºC. Se estiver mais frio dorme-se de blusão, calça, etc.
- Pochete para pequenas coisas.
- 3 pares de meias coolmax.
- 3 cuecas ou, mais precisamente, 1 cueca e 2 bermudas de lycra para evitar assaduras;
- 3 camisetas, 2 de manga curta e uma de manga comprida (sugiro o contrário, 2 de manga comprida e uma de manga curta, por causa do sol), tecido "dry fit" que seca rápido e não amarrota.
- 2 calças (uma forrada por causa do frio e outra sem forro ) e 1 bermuda (sugiro 2 calças daquelas que tira a perna). A bermuda é apenas para o final do dia quando não está frio. Apenas um dia caminhei de bermuda e não gostei. A maioria das pessoas caminham de calça. Protege mais.
- 1 blusão para frio. O meu é um termotex da Trilhas e Rumos, leve e quente. Há similares no mercado.
- 1 casaco de nylon com capuz. Também leve e quente (já tinha, não precisei comprar).
- 1 poncho de chuva que cobre também a mochila (não precisou capa para a mochila). Também preferi o da Trilhas e Rumos.
- 2 fraldas de algodão (servem como toalhas e usei também abaixo do boné para proteger do sol, ou mesmo como lenço no pescoço).
- 1 boné.
- 1 par de botas da Timberlad, com goretex.
- 1 para de sandalias, tipo papete, também da Timberland (mas há de todo tipo e marca).
- Escova de dente, tubo de pasta pequeno, fio dental e sabonete.
- Farmácia: esparadrapo tipo microporo, talco (pó antisséptico granado) hipoglós, dorflex, fenergan.
- Máquina fotográfica, pequena, leve, com boa resolução.
- Lanterna pequena e leve com bateria recarregável na tomada. É muito útil.
- Alfinetes de segurança (aqueles de fraldas). Na foto acima tem meias presas com alfinetes para secar.

COMPREI LÁ:
- 2 Stiks, 12 euros cada um.
- Toalha de banho da Adidas, de material bem absorvente e secagem rápida (10 euros).
- Farmácia: pomada anti-inflamatória para dor muscular (acho que pode ser calminex), comprimido anti-inflamatório, protetor solar, mais esparadrapo.

NÃO LEVEI NEM COMPREI (usei emprestado, todo mundo tem e aí terminei não comprando), MAS É IMPORTANTE:
- Adaptador de tomada (levar).
- Canivete (comprar lá para não levar na mochila no avião).
- Agulha e linha para o tratamento das bolhas (levar, é imprescindível).

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Brasileiros na Chegada






















27o Dia - Santiago

Bem, chegamos hoje a Santiago. Ponto comum entre os mais próximos é que as emoçoes ao longo do Caminho sao muito maiores do que a da chegada. Hoje nao deu nem para cansar, nem uma dorzinha no pé, nas pernas, etc. Além disso tem a burocracia da chegada: fila para pegar a compostela (certificado). Nao tenho a menor noçao do que está escrito lá, em latim, mas é pomposa. Nao tanto quanto a imponente catedral. A missa dos peregrinos é muito bonita e, entre muitos, foram citados os 7 brasileiros que sairam de San Jean e chegaram hoje. A emoçao maior fica mesmo por conta dos encontros e reencontros. Quando menos se espera recebe-se um abraço de alguém, numa língua indecifrável, que num determinado momento cruzou com você no Caminho e trocou algumas palavras, pessoas que as vezes nao lembramos mas que por algum motivo se lembram da gente, etc. Para minha surpresa a Ana Maria (até entao amiga virtual), que chegou sábado passado, veio recepcionar-me.
E muito mais ...

quarta-feira, 27 de maio de 2009

26o Dia

Poderia ter sido o último dia. Chegamos as 13:30 no Monte do Gozo, já em Santiago mas há 4,7 km da Catedral (marco zero). Amanha cedo estaremos lá.
Hoje a caminhada foi uma mistura da alegria da chegada com a tristeza de parar de caminhar. Muitos continuarao a caminhada até Finisterre. Talvez eu vá visitar de onibus. Contribuiu para a tristeza a paisagem, muita exploraçao de madeira, plantaçoes de eucaliptos, o que afastou os pássaros que nos acompanhavam até entao. Mais uma vez nao dá para colocar fotos de hoje. Sem contar a bagunça aqui no albergue por causa do jogo do Barcelona com o Manchester pela final da Copa Européia.

terça-feira, 26 de maio de 2009

Espiritualidade x Religiosidade


Fiquei devendo uma resposta para o meu amigo Miguel Cruz (http://www.oykosmiguel.blogspot.com/ ) sobre espiritualidade no Caminho. Trata-se de tema muito particular, pessoal, íntimo, e nao vejo ninguém conversar a respeito. As pessoas sao bastante fechadas neste aspecto. Percebe-se bastante manifestaçoes religiosas. Alguns estao pagando promessas. Nos templos e principalmente quando se vê uma cruz há muitas manifestaçoes. Em respeito a religiosidade alheia deixo de comentar esses casos.

Da minha parte o Caminho tem três componentes significativas:
1. O Caminhar - o "trekking", o desafio dos 800 km, a aventura, o passeio por lugares históricos (+ de 20 séculos de história).
2. O Retiro (as igrejas costumam chamar de retiro espiritual) - deixar a casa, a família, os amigos, o trabalho, ficar sozinho um tempo, meditaçao, reflexao, preces. Isso poderia ser feito em qualquer outro lugar, mas a história do Cristianismo nesta regiao e do próprio apóstolo Tiago sao motivantes.
3. O Convívio com pessoas diferentes - Isto foi uma surpresa muito agradável, uma nova comunidade. Em contraponto ao Retiro, no Caminho nunca se está sozinho. São diferentes culturas, línguas, religiões. Os que estão no Caminho há tempo já se conhecem, se encontram, se desencontram, voltam a se encontrar. Caminham juntos, comem juntos. Se alguém precisar de alguma ajuda sempre vai ter.

Mayumi



Presente para os amigos dela que estao acessando o blog

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Falta pouco



Hoje caminhamos muito pouco, muito devagar. Deu preguiça de caminhar. Parece desânimo ou depressao. As lesmas do Caminho (como já disse anteriormente sao muitas) estavam com inveja da nossa lerdeza.
Como se diz por aqui: nos preparamos para caminhar, nao para chegar.
Faltam menos de 40 km, mas ainda vamos levar uns 2 ou 3 dias até Santiago.
Mas agora, com a prática, dá para caminhar até o fim do mundo, ou ao fim da terra. Quem sabe até Finisterre. É pertinho, dá para ir de carro ou a pé. Acho que nao dá 100 km.

Gnomos no Caminho

A partir de sábado avistamos muitos "gnomos" no Caminho. Sao figuras encapuzadas, coloridas, e que nao param de caminhar nunca. Fotografamos vários e conseguimos entrevistar um grupo de quatro (amarelo, verde, vermelho e azul).
- Quem sao vocês?
- Somos gnomos, apreciadores da natureza, particularmente das chuvas.
- Peregrinos?
-Sim, mas só saímos na chuva. Se nao fosse a chuva a natureza nao teria essa exuberância, essa beleza. Tem peregrino que nao quer chuva, que acha que a chuva atrapalha o Caminho. Sem chuva nao tem Caminho. Na chuva nao tem calor, nao esquenta excessivamente os pés. Pisar no barro é mais fofo, menos impacto.

- E os demais peregrinos?

- Quando começa a chover abrem um guarda-chuva e caminham até o próximo bar, até a chuva passar.
(Créditos: os gnomos sao criaçao da amiga Mayumi)


Turistas no Caminho


Sábado e domingo o Caminho fica bem diferente. Os lugares mais bonitos ficam congestionados. Sao famílias e turistas que passeiam no Caminho no final de semana. Vê-se, ao contrário de outros dias, crianças caminhando com os pais. Isso é bom. Se eu morasse aqui também faria o mesmo. Mas tem peregrino que reclama pois os albergues e hostais ficam cheios, os bares e restaurantes também. É fácil identificá-los: mochilinha tipo escolar, tênis limpinho, longas paradas para lanche no estilo pic nic e ao menor sinal de chuva desaparecem rapidinho.
A partir de Sárria também aumenta muito o movimento pois para receber a Compostela (certificado de que fez o Caminho) basta fazer os últimos 100 km. Tem bastante gente nessa condiçao.
Por falar em chuva desde sábado a tarde que ela nos acompanha. Mas essa será outra estória.

sábado, 23 de maio de 2009

"Estória" no Caminho


Conta-se no Caminho que num sábado de maio quatro brasileiros e uma italiana, ao acordarem às 5:30 da manha, em Trabadelo, província de León, em suas preces matinais disseram para Deus:
- Senhor, guia hoje o nosso caminho, pois vamos cruzar as montanhas "Del Bierzo" (dizem que esse conjunto de montanhas tem o formato de um berço), regiao rica e de vinho muito saboroso, subir até o Cebreiro (de 530 até 1300 metros), descer, entrar na Galícia e subir até o Alto de Sao Roque (1290 m), descer novamente e subir até o Alto do Poio (1337 m).
Respondeu o Senhor, acenando positivamente:
- Vocês querem com emoçao ou sem emoçao?
- É o mesmo preço? (perguntou um brasileiro)
- Sim, nao há diferença
- Com emoçao (responderam quase em coro os peregrinos)
- Pois nao (respondeu o Senhor, já adiantando que nao haveria os 35 graus centígrados do dia anterior)
E assim foi. Com tudo que tinham direito: calor, frio, neblina, chuva, relâmpagos, trovoadas, barro, botas cheias d´água, ... Subidas, descidas, mais subidas, mais descidas. Tanta descida que nao conseguiram parar antes de Triacastela.
E andaram 41 km nesse dia.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

20º Dia

Hoje estou em Ponferrada, ainda na Província de León. Amanha entrarei na Galícia, muito mais bonita a natureza e mais interessante. Depois de uns 4 dias margeando estradas em terrenos planos voltamos aos morros, subidas e descidas, pedras rolantes, joelho sentindo pressao, etc. Hoje fui ver o nascer do sol na Cruz de Ferro. Magnífico. Quando der coloco as fotos. Logo depois atingimos o ponto mais alto do Caminho (salvo engano), em Estación Militar, 1517 metros de altitude. Quem fez o Caminho de 1 a 30 de maio no ano passado pegou 15 dias de chuva. Até agora minha capa é o principal supérfluo (o resto sao algumas pomadas que estou quase jogando fora). Mas a previsao do tempo é de muita chuva no sábado e domingo. Está criada a espectativa. Bem, neste albergue a internet é de graça, mas tem uma fila grande esperando.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

17o Dia

Ontem chegamos cedo em León e deu para passear. Cidade grande e muito interessante, porém domingo tudo é fechado.
Hoje cheguei por volta do meio dia em San Martin del Camino, localidade intermediária para chegar de León à Astorga. Cada dia andando mais devagar, tentanto ficar entre 24 e 30 km.
Nas conversas os peregrinos nao tem como fugir sempre do mesmo assunto. Cada dia que passa mais as pessoas perguntam o mesmo: "Vais até Santiago?" Perguntam uns aos outros, mas na verdade estao perguntando a si mesmo. E a resposta varia. "meus pés dizem que está difícil" responde um , "mas o que diz teu coraçao?" pergunta outro, "bueno, diz que vou chegar ... ". Ou entao alguém responde ao contrário: "meu coraçao diz que vou chegar", "mas o que dizem teus pés?", pergunta-se. "Bueno, nao tenho tanta certeza ... ".
Parece que no Caminho o corpo só tem coraçao e pés.
Como caminhamos de oeste para leste, meus pés seguem a direçao da sombra e o sentido das setas amarelas (estao sempre presentes orientando o Caminho), mas nao posso seguir o "rumo do meu próprio coraçao", senao vou me bandear para outros lados.

sábado, 16 de maio de 2009

15o Dia

Estou em Reliegos, povoado que nao tem quase nada. Os dois últimos trechos foram bastante monótonos (nao tanto quanto este blog), mas já sonhando em chegar em León, cidade grande, onde dá para passear um pouco.
Mais brasileiros no Caminho: Chanel (de Leme-SP), o casal Pedro Puente e Amabele (de Vitória). Essa turma está entrando no blog, espero que contribuam.
Ontem recebi uma mensagem da Cintia que, entre outros, destaca um pensamento chinês que diz "que a viagem é mais importante que o destino ...". Valeu.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

14o Dia

Estou em Sahagun, primeira cidade da Província de León. Hoje, em algum momento, cruzei a linha imaginária da metade do Caminho.
Entre as muitas amizades, 5 brasileiros temos estado muito juntos, principalmente no fim do dia quando lavamos roupas, fazemos compras, jantamos e planejamos o dia seguinte (rotina já citada anteriormente). Sao: Daniel (Sao Paulo), Mayumi (Sao Paulo), Gilberto (Caxias do Sul) e Luciano (Porto Alegre). O percurso do dia seguinte é sempre estudado e aí dá para dizer se anda-se mais ou menos. Isso também é uma funçao dos limites do corpo. Ontem, quando a garçonete ofereceu um garfo: "tenedor?" , prontamente recebeu a resposta "si, tengo dor nos pies, pernas, ..."
Em Calzadilha de La Cueza encontramos com o Flávio, um bahiano que administra o albergue local. Fez a gentileza de reservar o albergue aqui em Sahagun, administrado por outra brasileira, Ângela, do Mato Grosso.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

14/5

Cheguei hoje a Carrión de Los Condes, agora já na Província de Palência. Na caminhada nao há muita novidade. Agora mais plano e margeando muito as rodovias. Ante-ontem experimentei caminhar 10 km de papete (sandália) pois estava com uma bolha pequena no calcanhar me incomodando. Deu certo. No dia seguinte (ontem) fiz todo o percurso de papete por precauçao. Mas hoje já voltei às botas. Falo isso porque entre os peregrinos no Brasil há grande discussao entre usar tênis ou bota. Basta alguns poucos quilômetros no Caminho para se ter certeza, na minha opiniao, que a bota é insubstituível. Tem gente que carrega os dois e usa ora um ora outro. Sao aqueles dos mochiloes pesados que trazem de tudo. Há trechos, inclusive de asfalto, que o tenis seria mais prático, mas basta voltar um pouquinho para as pedras nos morros, ou no barro, para nem pensar em vir só com tênis. É a minha opiniao.
Hoje conversei um pouquinho no Caminho com uma senhora canadense. Quando, no meio da conversa, perguntei se caminhava sozinha (muitas senhoras andam e grupo) respondeu-me prontamente: "nao, estou andando com você, e também com aquele rapaz ali da frente, e com aqueles que vem lá atrás, ..."
Já que a biohomogenidade nao colabora, a beleza tem ficado por conta das construçoes históricas. Destaco os sinos das igrejas. Todo povoado tem uma, ou mais, igreja, construída ao longo do Caminho. Sempre no local mais alto, o que nos dificulta pois o Caminho sempre tem que passar em frente exigindo uma subidinha. Seus sinos tocam sempre que estou chegando ou sainda. Na verdade tocam a cada 15 ou 30 minutos e sempre coincide com algum momento da nossa passagem. Variam em tamanho e consequentemente em timbre e intensidade. Ouve-se de longe.
Entre os passarinhos, já comentados, hoje ouvi um muito conhecido: o cuco, aquele dos relógios antigos. É igualzinho. Parece que estao anunciando as horas: cuco, cuco, cuco, ...

segunda-feira, 11 de maio de 2009

10o Dia

Estou em Burgos. Se alguém fizer o cálculo de quantos km andei hoje nao contem para a Solange, nem para a Neca (Irene). Exagerei um pouquinho. Amanha compenso.
Outras observaçoes: Nao há negros no Caminho. Niguém viu nenhum. Acho que devo ser o mais moreno. Dos orientais muitos coreanos, nenhum japonês e nenhum chinês. Dos EUA um ou outro, mas muitos canadenses. Os europeus predominam (espanhóis, alemaes e franceses). Os brasileiros sao muitos. Hoje, no albergue de Burgos (um luxo só, tem até elevador, vários andares, etc.) tem 11 (pela animaçao valem por 40).
Legal observar a biodiversidade no Caminho. Tirando os passarinhos, que me acompanham das 6 às 10 horas, o resto deve se chamar biohomogenidade. A floresta que passei hoje tinha uma única espécie de árvore, uns 4 arbustos e uma gramínea. Caminhei um pouco olhando para o chao e consegui ver algumas formigas, uns besouros e muita lesma e minhoca. Só. Disse-me um galego que na Galícia isso mudará.

domingo, 10 de maio de 2009

Nem sei mais em que dia estou


Há albergues e ALBERGUES. Imaginem entre 3 e 4 da tarde 100 peregrinos, suados, entrando neste salao, tirando a roupa e as botas. É terrível. Depois a noite uns roncando, o cara de cima do beliche com ansia de vômito, etc. Isso foi em Nágera. Em compensaçao, no pequeno povoado de Grañón, fomos tratados com muita atençao, jantar, café da manha, tudo incluido, "de graça" (cada um contribui como quer) e com grande hospitalidade. Saímos tarde, parecia que ninguém queria ir embora. Tive que tocar piano antes de sair pois o hospitaleiro havia gostado da "festa" da noite anterior. O Caminho é isso. Agora só paro nestes "hospitais de peregrinos" pertencentes às Casas Paroquiais.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

7o. Dia

200 km já é uma boa marca. E a experiência cada vez mais rica. Estou em Nágera. A Rotina é sempre a mesma: caminhar, caminhar, caminhar, entrar na fila do albergue na hora que chega (tem muito peregrino nesta época), banho, cuidar dos pés (creme, hipoglós, esparadrapo, etc.) ir no supermercado, lavar roupa, tentar achar uma internet e se preparar para o dia seguinte. Mas o melhor é a janta. Muita gente amiga e vinho. Hoje, no Caminho, cheguei a sonhar com uma água de côco na chegada, mas nao tinha.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

6º Dia


Estou em Logroño, capital da Província de Rioja. Cheguei cedo, já fiz compras no mercado (banana, maça, pera), curei os pés (hipoglós e microporo nas ameaças de bolha), lavei roupa, albergue ótimo. Ontem encontrei o Daniel, médico brasileiro, de Sao Paulo, que me deu um antiinflamatório para a dor no joelho.
¨Acordate hijo se queres ser bueno¨ foi a frase que me acordou hoje as 5 da matina. Era o que dizia o meu pai, quando eu era criança e tinha que levantar cedo, no frio de Uruguaiana, para ir para o colégio.
Depois no Caminho, ¨al pasito¨ lembrava: ¨Trago a trago te voi tragando Uruguai viejo¨
As outras frases estao no caderno ...

quarta-feira, 6 de maio de 2009

5 dia

Hoje caminhei bastante, 30 km. Estou em Torres del Rio, última cidade da Província de Navarra. Amanha pretendo ir só até Logroño. Devo chegar cedo (antes do meio dia) e descansar e passear um pouco. O jantar aqui foi ótimo, além de um bom bacalhau com vinho belas discussoes. Imaginem um italiano e um francês chamando os argentinos de arrogante e eu defendendo os argentinos (quem diria). Os suiços e espanhóis me dando razao. Quando os italianos quiseram falar mais alto o suíço lembrou que sou pentacampeao. Aí acaba qualquer discussao. Haja vinho.
O sol hoje estava muito forte (antes ele do que chuva). Mas caminhei de manga comprida e, seguindo as recomendaçoes da Solange, tinha protetor solar. Aliás o protetor foi graças a um argentino (Cláudio), hospitaleiro no Caminho, que procurou um boteco em toda parte até achar o protetor que eu precisava. Está acabando o tempo na internet e mais uma vez aqui é com moeda, sem acesso à CPU e sem poder colocar as fotos.

terça-feira, 5 de maio de 2009

2º ao 4º dia

Finalmente consegui uma internet. Estou em Estella. Já andei quase 120 km. Já me arrependi deste blog. Impossível transcrever as emoçoes (o teclado espanhol só tem til no Ñ) do Caminho. Vai uma descriçao fria da rotina do dia a dia mesmo.
Até aqui tudo melhor do que planejado. Bolhas zero. Assaduras zero. Mochila (pequena de apenas 35 litros, da Ednea) ajustadíssima, causando inveja a muitos e até meio humilhada diante de cada mochilao com armaçao de aluminio. Dor nas pernas dentro do normal. Estou agora mais tranquilo (caiu o trema?), caminhando mais devagar, menos ansiedade. A convivência com gente de todo o tipo e raça é fantástica. Caminho sempre sozinho, mas a festa no final do dia é uma verdadeira torre de babel. A bandeira do Brasil na mochila sempre atrai a atençao. Outro dia caminhei um pouco com um polonês e conseguimos nos entender. A mesma coisa com 3 coreanas, etc.
Demorei a me convencer de que tinha que andar com o cajado. Só depois de forte dor no joelho numa tremenda descida do ¨Alto del Perdon¨, quando uma holandesa me emprestou um de seus dois cajados é que vi que nao é a toa que todos os peregrinos historicamente sempre usaram. Comprei um ¨stick¨ (cajado de metal, leve) e já nao sei como consegui caminhar antes sem ele.
Tenho ficado sempre em albergue. Além de barato é bem organizado. Como só os brasileiros tomam banho todos os dias, quase nunca tem fila nos chuveiros dos albergues.
Refeiçao completa apenas o jantar. Normalmente o ¨menu do Peregrino¨ com uma entrada (massa ou sopa ou salada), o prato principal (¨ternero¨ ou ¨polllo¨), sobremesa, água e vinho. O vinho tem sempre. Como me lembra minha amiga Kátia ¨Com pan e viño se hace el Camino¨ (é bem verdade que banana e chocolate ajudam bastante). Toda tarde prepara-se o lanche para o dia seguinte e felizmente nao falta banana por aqui. É isso. Parei de planejar e nao sei até onde vou amanha, nem tenho idéia de que dia chegarei a Santiago. Mas acredito que vou chegar.

sábado, 2 de maio de 2009

1o. dia


Cheguei em Lisboa e fiz conexáo (quando eu descobrir como se acentua nestes teclados corrigirei os acentos) para Pamplona. Tudo nos conformes pensando em sair de Roncesvales (Espanha próximo à fronteira com a França) como Planejado. Aí encontrei uns brasileiros (Fabrício e as duas Graças de Brasília)  indo iniciar o Caminho em San Jean Pied de Port, que perguntaram-me porque nao sair de lá também. Nao soube responder e tomei o taxi junto com eles. Eu sabia que sair de SJPP seria um desafio muito maior. Um dia a mais, cruzar os Pirineus, 27 km de muita subida (desnivel superior a 1000 metros). Mas nao sabia que seria tao emocionante. Chegamos quase a noite em SJPP, o albergue público já estava lotado, mas consegui outro (só tinha uma vaga) por 7 E (euros) e os outros 3 foram para o hotel. Os albergues sao cheio de normas. Saimos para jantar e como voltei depois das 9 nao podia mais tomar banho. Maravilha. Dormi do jeito que estava pois a noite anterior tinha sido no aviao e alem disso tem uma diferença de fuso horário de 5 horas. Também nao podia levantar antes das 7. Nao foi problema, acordei 6:55 e quando foi 7 fui o primeiro a usar o banheiro e daí a 15 minutos estava no Caminho. Tudo que se podia (ou nao) imaginar ocorreu: frio (muuuuiiiito), neve no caminho, muita lama e neblina o tempo todo. É sem dúvida o trecho mais emocionante e dizem o mais bonito. Valeu a pena a mudança de plano.

Cheguei em Roncesvales as 14:15. Só sete horas de caminhada e fui dos primeiros a me instalar no albergue. Banho quente maravilhoso, 2,20 E para lavar e secar toda a roupa.

sábado, 18 de abril de 2009

Início

Este Caminho começou no segundo semestre de 1999, quando planejei detalhadamente toda trajetória. Mas em dezembro "chegou" a Ana Lúcia e os planos mudaram (aliás tudo mudou). A partir daí não tive mais tempo. Depois descobri que tempo é uma questão de decisão. Agora decidi: estou a(no) Caminho de Santiago.